Quando a inovação sustentável é inevitável: a tendência global ESG

fev 10, 2021 | Artigos

O que isso muda na cultura organizacional e como começar

O que é ESG?

Atualmente a sigla ESG – Environmental, Social and Corporate Governance (ou ASG em português) tem figurado no mundo dos negócios, trazendo um novo paradigma de avaliação e credibilidade que se soma ao valor financeiro. Cada vez mais, os critérios Ambientais, Sociais e de Governança Corporativa têm somado capital estratégico às marcas, sendo percebidas de forma mais positiva e atraente pela opinião pública e de stakeholders.  

Atualmente, a pauta ESG está em alta no mercado financeiro devido a uma série de pressões. Uma delas é a urgência do cumprimento dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) previstos pela Agenda 2030, da ONU, que declara nossa interdependência mundial e cobra um compromisso de todos os Estados na criação de um futuro possível que esteja dentro dos limites do planeta. A Agenda 2030 é um plano de ação sustentável completo e global herdeiro da Agenda 2021, criada na Rio 92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento) e que indicava a necessidade de mudanças no padrão de desenvolvimento no século 21. A Declaração de 2030 amplia e integra necessidades no âmbito de pessoas (garantia de dignidade e igualdade), prosperidade financeira, cultura de paz, parceria global e proteção/regeneração de recursos do planeta, firmando 19 objetivos com 169 metas a serem alcançadas em menos de uma década. Assim, a pauta que reconhecíamos como “do Meio Ambiente” se torna agora prioridade também no contexto organizacional, pois passa a ser uma questão sistêmica, integrando fatores sociais, políticos, éticos e culturais.

ESG: hoje, um diferencial. Amanhã, critério padrão.

A pauta ESG é o que desloca esta agenda atual voltada à sustentabilidade do lugar da carta de intenções para um futuro ideal e a coloca na arena do mercado. Nesse sentido, o discurso das melhores práticas para sustentabilidade começa a se tornar indicador para demonstrar a solidez, a transparência e a qualidade da atuação das organizações em direção à Agenda prevista. Ao mesmo tempo, torna-se um valor inegociável, tanto para investidores quanto para consumidores, que estão cada vez mais atentos a empresas que não operam de acordo com diretrizes sustentáveis e éticas, evitando aportar seu dinheiro e estabelecer relações comerciais com essas organizações.

Investimentos sustentáveis vão se fortalecendo, assim, como um dos segmentos financeiros que mais crescem hoje no mercado. Mas sustentabilidade não é apenas sinônimo de impacto ambiental. O ESG vem se firmando no mercado por avaliar tanto a coerência nos processos internos das empresas nas práticas responsáveis e éticas quanto a resiliência e sustentabilidade dos resultados financeiros. Hoje estamos na fase de refletir e entender como aderir e aplicar na prática o conceito ESG nas organizações, e muito em breve essa forma de “capitalismo mais consciente” será o modo de operar padrão.

Negócio consciente da porta pra fora e da porta pra dentro 

Já chegamos no ponto em que investir só em publicidade com uma fachada “colorida” (por exemplo, aplicar selo de reciclável no produto, contratar casting com diversidade racial e de gênero na propaganda), não é sinônimo de responsabilidade ambiental ou social. Essas ações, apesar de muito importantes,  não bastam. Elas, muitas vezes, tornam-se um tranquilizador de consciência, cujos efeitos pouco aparecem nos bastidores, ou seja, da porta pra dentro das organizações. 

A sustentabilidade nesse contexto ambiental, social e econômico pede consciência com coerência nos discursos, práticas, processos e resultados. O discurso verde, sustentável e transparente passará a ser avaliado em números e relatórios concretos. Nesse sentido, o ESG já desponta como uma tendência hegemônica global. Então, como começar a olhar pra isso? Ampliando a perspectiva da cultura organizacional, que influencia e é influenciada pelo que acontece na governança, na sociedade e no meio ambiente (que não é só sinônimo de floresta, inclui o ambiente urbano, rural, ou seja, seu entorno em escala local, regional e global). 

O gestor Florian Bartunek, da Constellation Asset e responsável por R$ 12 bi em ativos, indicou que ele e sua equipe fazem ESG olhando sempre para Governança, ou seja, da porta para dentro, incluindo alinhamento com acionistas, estrutura societária, remuneração, transparência solidez nos controles e processos internos, entre outros. Em paralelo, consideram o âmbito social sob a lente do cliente, do colaborador e da comunidade, incluindo fatores como engajamento, relacionamento, rede de apoio, desenvolvimento e proteção; e também o ambiental, com levantamento de dados sobre preservação da biodiversidade, emissão de poluentes, consumo de recursos básicos como energia e água, entre outros. Assim, ele aponta para a criação de indicadores com base em metas relacionadas e previstas pelas ODSs – algo que ele já vem pesquisando e analisando há anos. Definir indicadores não é o primeiro passo para integrar ESG – até porque não se trata (ainda) de adequação do conceito a um órgão regulador. A pressão, por enquanto, envolve a percepção que o mercado tem do seu negócio, logo, sua aderência é inevitável, para continuar existindo e prosperando nesse cenário. Correr para criar indicadores e depois para adequar a operação não só não vai adiantar quanto pode trazer desafios ainda maiores. Por exemplo, pode existir um processo por escrito de prevenção à corrupção no âmbito da Governança Corporativa, mas ele vai precisar ser medido, avaliado e comprovado – o que depende da criação de processos éticos a partir de um modo de pensar e atuar ético. Ou seja, olhar a operação de perto, criar indicadores com ela envolve questionar não só como essa operação se dá, ou seja, como ela funciona, mas quais são os pressupostos são necessários e precisam ser compartilhados para que eles aconteçam. 

ESG: Como começar?

Se não são os indicadores, quais seriam os primeiros passos para aderir a pauta ESG na sua organização? 

  • (Auto)diagnóstico: rever os próprios objetivos da empresa, avaliar o que já se faz dentro dessa agenda, muitas vezes  sem que se dê conta. 
  • Como o ESG dialoga com a intencionalidade e a finalidade  do meu negócio? De que forma essa pauta faz sentido dentro da empresa?
  • Como aderir às necessidades do mundo e do entorno onde estamos inseridos? – veja que aqui não se trata de criar demanda para sobreviver no mercado nem de levantar uma bandeira, defender uma causa, mas de observar como o seu negócio atende ao que mundo pede hoje.
  • Analisar os ODSs em relação ao seu negócio: os ODSs são uma das principais bases de aderência ao ESG.

– Quais metas (ODS) são compatíveis com a finalidade do seu negócio hoje?

– De que forma é possível incluir a visão para onde os ODSs apontam na estratégia da empresa, nas metas globais de cada departamento e de cada colaborador?

– Como a visão trazida pelos ODSs afetam/afetarão a cultura da organização?

  • Buscar certificações: enquanto não houver órgão regulador, essas certificações são indicadores de que sua organização está preocupada e atuante na pauta ESG.
  • Quais são as certificações no mercado alinhadas aos ODSs que têm relação com a finalidade da organização? Por exemplo, Sistema B, Pacto Global, Capitalismo Consciente, CFA, etc.
  • Implementar e desenvolver: é efetivamente trabalhar para o desenvolvimento dessas ambições, além de compartilhar com cada pessoa da organização, porque será sempre um esforço conjunto. Implementar uma cultura regenerativa na organização, por meio da revisão de processos, da entregas e resultados, do olhar sistêmico para o impacto da organização em âmbito local, regional e global, buscando agir de forma consciente e coerente na construção de um mundo sustentável.

 

Káritas Ribas é consultora em Educação Executiva, Pesquisadora em Complexidade, Mestre em Biologia-Cultural, Filósofa, Coach Ontológica (ICF). Sócia-fundadora do Appana Território de Aprendizagem e soma 20 anos de atuação com Desenvolvimento Humano.

Paulo Henrique Corniani é sociólogo, pós-graduado em dinâmica dos grupos e Coach Ontológico (ICF). Sócio e Diretor Executivo do Appana Território de Aprendizagem. Um homem latino-americano buscando entender as coisas.

Carolina Messias é pesquisadora de Comunicação Autoral, Mestre em Letras, Coach Ontológica e entusiasta de Curadoria de Conhecimento.

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